Acaso perguntem em quem estava eu a pensar quando escrevi este artigo responderei: “em mim mesma”.
Não é a minha biografia não; não se preocupem, é apenas um relato do que se passa aqui e em muitos lares pelo mundo moderno.
As pessoas hoje parecem desconhecidos vivendo sob o mesmo teto. Quando estão distantes umas das outras se comunicam pelos mais variados meios tecnológicos, todavia, quando estão próximas é o silêncio que reina. As redes sociais viraram moda e juntam muitos casais, porém, com o passar do tempo o que parecia amor verdadeiro é trocado pelo meio de comunicação que os uniu.
As relações humanas não são as mesmas há muito. Famílias inteiras vivem juntas e “distantes”, só se aproximam por meio da tecnologia quando falam ao telefone ou quando dizem “eu te amo” em um “post” de Facebook no modelo pronto (tipo, copie e cole).
É fácil sair manifestando amor aos quatro cantos por intermédio da internet, queria ver isso ocorrer na “real”, “cara a cara”, ou como dizem por aí, “tete a tete”.
Pessoas que nunca se viram são amigas em redes sociais. No dia do aniversário se cumprimentam, por meio delas, como se “velhos amigos” fossem. Mas não se dão ao trabalho de dar bom dia ao se cruzarem na rua.
Com esse repertório estão imaginando que isso também se passa comigo. NÃO. Comigo a história é outra, que também envolve tecnologia, porém de uma forma diferente é que ela me afeta.
Quando resolvemos passar a vida ao lado de alguém é porque esse alguém é, de alguma forma, importante em nossas vidas. O queremos próximo de nós para termos com quem falar, abraçar, viajar, assistir à um filme, enfim; passar bons momentos ao lado dela. Mas aí chega a “concorrente” desleal, ou seja, a tecnologia que ofusca, que diminui o nosso brilho aos olhos de quem amamos. Nesses momentos, o que fazer se muitas vezes também agimos da mesma forma? Estar diante de um “poderoso” computador, um belo “tablet” ou um celular última geração é, não raras vezes, mais “atraente” do que estar diante de nossos maridos, nossos pais, nossos amigos. Acredito que hoje, os únicos que ainda “ganham” nossa atenção pessoal e não virtual é nossos filhos, mas a recíproca não é verdadeira.
Já existe, na China por exemplo, centros de internamento para “viciados” em internet. O centro que cuida desses viciados em Pequim tem tratamento militar, ou como se fossem militares; usam trajes e são “cuidados” e “orientados” por ex-militares (fonte da revista Revista Exame). Esses jovens chineses, na maioria absoluta jovens, são internados pelos pais porque foram diagnosticados como “dependentes” dessa tecnologia. São pessoas que se esquecem do mundo real, das relações sociais, familiares, afetivas e laborais. Não pensam em mais nada que não seja estar diante de uma tecnologia e conectado ao “mundo virtual”.
Aqui no Brasil, uma pesquisa realizada pelo Hospital das Clinicas em São Paulo, constatou que estão em torno de 8 milhões o número de viciados em internet (o que corresponderia a 4% da população nacional). Gente que, como eu, sente na pele a “solidão acompanhada”.
Somos uma presença quase invisível frente a uma tecnologia avançada; tecnologia que leva conhecimento, diversão e também possíveis e diferentes formas de prazer. Estaria eu aqui falando de sexo? Muitos aqui podem estar com um sorriso nos lábios ou mesmo dando boas gargalhadas a pensar que tenho um “companheiro depravado”, que adora a internet pelas possibilidades que ela dá em mudar o “cardápio”. Eu digo que, nem tanto! O que incomoda mesmo é o fato de eu estar me transformando em sua “alma gêmea”, ou seja, numa pessoa como ele – também “viciada” em internet.
O meu sonho sempre foi ter alguém com quem pudesse contar para um jantar romântico, que soubesse me ouvir mas também falar, que não se preocupasse em comer rápido para retornar a casa e ligar o computador; alguém que esperasse o jantar com calma, sem contar os minutos ao meu lado e que aproveitasse esse tempo para me dizer coisas bonitas, e também ouvir, e que, acima de tudo, não se preocupasse se o lugar tem Wi fi.
Muitos dirão que tenho culpa – talvez tenham razão, pois me deixei ser, literalmente, “trocada” pela tecnologia e pela internet.
Mas o que fazer se ela é nova e atraente, talvez tenha mais a oferecer do que eu? Mais cultura, mais assunto, mais brilho! Isso está me parecendo até um desabafo! SÓ QUE NÃO! Infelizmente o que relato aqui, a pesquisa feita no Hospital das clínicas constatou acontecer com outros casais.
O Editor do Portal Rmax, Richard Max, na entrevista feita pela citada pesquisa, disse ser 100% viciado em Internet. Usa quase todo tipo de rede social e passa o dia inteiro atrás do celular. Almoça com ele e olhando para ele, ao assistir televisão ainda manuseia o aparelho, leva-o para cama e somente solta ao dormir, ao acordar a primeira coisa que faz e ligá-lo para ver mensagens ou notícias novas; fato que às voltas, o leva a discussão com a esposa. Disse que chega à abrir mão de uma vida social para estar on line (com o celular). Sabe que são pontos negativos na sua vida, mas ainda não está conseguindo controlar.
Realmente são comportamentos preocupantes diz o psicólogo coordenador do grupo Dependência de Internet do Hospital das Clínicas de São Paulo, Cristiano Nabuco de Abreu, acredita que a utilização responsável da internet, baseada no bom senso, é a chave para se auto-educar quanto a um acesso correto à rede.
Ele alerta que até hoje ainda não há estudos que mostrem de forma exata todos os tipos de consequência que o uso desenfreado da internet pode causar. “Há um número grande de pesquisas hoje que mostram que esse exagero quanto à exposição dos indivíduos às novas tecnologias resultam no déficit de atenção dos usuários. Atualmente, estudos estimam que a concentração de um jovem se limita a 3 minutos”, sublinha.
O que quis aqui não foi colocar a Internet e a Tecnologia como vilãs, responsáveis por todo “mal” que acontece com as relações humanas; afinal, elas não tem vida própria, é nós que damos “vida” a elas, e por sermos nós, os responsáveis por elas existirem é que devemos saber nos controlar diante do que elas oferecem. É muito triste estarmos “presentes” e só sermos vistos quando “ausentes”, por meio de uma “Web Can” em um skype, Facebook, Twiter, WhatsApp ou Viber da vida, enquanto, no agora, nos tratam como “invisíveis presenciais”.
É por não querer ser tratada assim que me “policiarei”. Recuso-me a deixar de ver e sentir o ser humano na sua melhor essência, ou seja, a real. Apesar da importância que a Tecnologia e da Internet tem, elas nunca serão mais importantes que as relações humanas – abandoná-las é o mesmo que viver num mundo de “faz-de-contas” rodeado por máquinas sem sentimentos, sem compaixão.
By Elane Souza (autora do Blog e Advogada no CE)
Fonte: portugues. Rfi. Fr (reportagem de Daniela Franco)
Foto retirada do site: brainstorm9. Com. Br (a "morte da conversa")
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