Advocacia: colegas explorados e sociedade equivocada

Há mais ou menos três anos (editado 08 agosto 2017) escrevi um artigo e o publiquei no JusBrasil expondo a situação porquê passavam e passam alguns (milhares) de Advogados neste país. Nele recebi muitos comentários, dentre os quais alguns, poucos, dizendo que a culpa seria, exclusivamente, de quem aceitava a situação e seguia fazendo trabalhos a preços vis.
Advogado a prostituio da carreira e o que pensam de ns a sociedade
Imagem oabcampos - Dignidade dos honorários
Acredito que quem pensa assim é porque nunca teve que batalhar, correr atrás de trabalho como louco, para sobreviver.  

Muitos Advogados que estão no mercado vem de famílias pobres, que se graduaram no mais absoluto esforço – muita das vezes com incentivos governamentais ou com bolsas parciais e até completa; outros deram o “sangue” num trabalho qualquer enquanto estudavam pela noite, depois de uma jornada exaustiva, para conseguir bancar uma Faculdade particular de conceito mediano ou até duvidoso, pois uma de excelência custaria mais.

No entanto, e infelizmente, alguns profissionais vieram comparar a Advocacia de algumas dessas pessoas com a vida que leva uma prostituta e isso é inadmissível, quiçá humilhante!   

No entanto, o que fazer se parcela dos advogados, como já mencionado, não possuem meios financeiros para montar o próprio escritório nem tem oportunidade de trabalhar com outro que possua uma carta de clientes?  Ou aceita o trabalho de correspondente a preço vil, oferecido pelos próprios colegas, ou terá que deixar a Advocacia. 


Muitos aceitam; quem duvidar da informação entre em alguns dos sites que existem na internet (isso em 2014 - hoje então, até o facebook está repleto de páginas...!!!) e veja como há milhares cadastrados como correspondentes. 

Alguém aqui acredita que quem se cadastra em sites assim é porque tem a vida “ganha” e não precisa se submeter a honorários vergonhosos pagos por colegas de outros Estados e/ou Municípios?  Quem acreditar – desculpe, é inocente!  
A maioria aqui já sabe que sou Advogada há alguns anos, todavia, como vivi fora por quase 5, retornando ao Brasil tive que voltar aos estudos para seguir na Advocacia (estou a me considerar uma novata - em 2014); assim, eu também tive que experimentar este tipo de trabalho (correspondente, audiêncista, apoio) – não deu para seguir, preferi, definitivamente, estudar e estudar para, quiçá, um dia, ser Defensora pública.
No entanto, não creio que quem siga fazendo seja porque quer se “prostituir” na carreira; acredito sim, que é a falta de opção ou o sonho de um dia se tornar um grande Advogado ou mesmo pela necessidade de trabalhar para dar sustento a família. 

Falar o contrário é fácil quando se está em um belo escritório, ganhando no mínimo o que vem prescrito na Tabela de seu Estado e podendo se valer de outros colegas de profissão, como correspondentes, pagando a miséria que quer. 

Alguns comentários, do artigo em questão, foram tão incisivos que até poderia usá-los numa denúncia contra esses exploradores que, muitas das vezes até calote dão nos colegas que fazem o trabalho para si.
Imagine se esses Advogados tivessem que fazer, eles mesmos, o trabalho?  

Sair, por exemplo, de Florianópolis e vir a uma Audiência em Recife. Quanto não pagariam de despesas totais? É um custo bastante elevado quando se compara com o que querem pagar para outros fazer. 

Felizmente, para eles, agora, existe esse tipo de serviço estampado em vários sites (não condeno – acho válido e inclusive eficaz), todavia, explorar os colegas e até dar calote é o mesmo que cometer crime. 

Entendemos que um profissional assim não tem valor nenhum, o valor dele é muito mais ínfimo que o valor que ele paga ou oferece (promete e não paga) aos colegas que hoje chamam “prostitutos da profissão”.
Infelizmente, a vida na Advocacia não está fácil; são centenas, senão milhares de desempregados ou em sub-empregos!  Se por um lado os honorários que estão na maioria das tabelas são considerados altos pela população, por outro, os que são pagos pelos próprios colegas são aviltantes. 

Dizer que enquanto houver quem faz haverá quem paga (como na prostituição – comentários ao artigo anterior) é para quem nunca enfrentou dificuldade de verdade, pois se um não faz outro fará pela necessidade que passa ou por não ter saída!  

Julgar os colegas por fazerem não é o caminho; acredito que o caminho seria lutarmos juntos por uma Advocacia mais valorizada, mais digna – em especial por nós mesmos!
Tudo isso que foi redigido aqui vem da indignação de comentários que recebi em artigo anterior, um ainda me recordo bem mas acredito que tenha sido excluído pelo próprio comentarista ou pelos moderadores do JusBrasil que dizia mais ou menos o seguinte:
“Se vocês que são Advogados acham que estão ganhando pouco imagine a maioria da população…., foram fazer Direito pensando que iam ficar ricos, pois “deram com os burros nágua”…., esse tipo de artigo serve para os estudantes de Direito pensarem melhor antes de continuar nessa de querer ser Advogados…., menos concorrentes para os que já existem…, e bla´, blá, blá”.
Além desse pequeno trecho do comentário (que era bem extenso) vale ressaltar sobre a visão distorcida que grande parcela da população tem acerca da classe Advocatícia: “que todos somos ricos e exploradores”!
Certa vez, em 2013 em uma palestra em New York, a própria Presidente Dilma nos considerou “custo” – enquanto Engenheiro sim, seria produtividade.
Somos um país que forma mais advogados que engenheiros. Advogado é custo, engenheiro é produtividade, disse a presidente, para risos da plateia reunida no auditório do Goldman Sachs.
Portanto, se nós, juntamente com a OAB, não fizermos nada para mudar essa situação seguiremos assim – mal falados pela sociedade e pelos governos e marginalizados pela nossa própria classe!
Autoria: Elane F. De Souza OAB-CE 27.340-B
Foto/Créditos: oabcampos. Org. Br


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